A mítica região da divisa com a Bolívia, onde moravam os índios Xaraiés e Guató, e que seria o caminho do Eldorado, continua atraindo sonhos no Pantanal. É ali que Douglas Trent, através do Projeto Bichos do Pantanal, pretende empreender um novo projeto de desenvolvimento do turismo de base comunitária, tal como o que realizou na estrada Transpantaneira, junto à família de Eduardo Falcão e de Lerinho.
A rodovia MT-060, conhecida como Estrada do Boiadeiro, é a nova rota que Trent, juntamente com os integrantes da Rede de Cooperação do Projeto Bichos do Pantanal, batizou de Transpantanal. O desafio dessa região é similar ao de muitas áreas naturais do Brasil: implementar o turismo de natureza para gerar desenvolvimento socioeconômico e o empoderamento das comunidades locais, com preservação do meio ambiente.
O primeiro passo para esse sonho é compreender onde investir primeiro. Hoje não há infraestrutura suficiente, poucos guias e operadores de turismo falam inglês, os guias especializados em reconhecimento de fauna também são poucos, quase não existem pousadas que atendam aos padrões internacionais e a divulgação em publicações fora do país, em muitos casos, praticamente inexiste.
Apesar do cenário aparentemente negativo, cidades como Bonito, no Mato Grosso do Sul, e Mamirauá, no Amazonas, além do projeto de Douglas na Transpantaneira, a Reserva Ecológica do Jaguar, são provas concretas das vantagens e do crescimento sustentável que o turismo de natureza pode proporcionar, seja para as cidades onde essa atividade se estabelece seja para a população local. A própria experiência de Douglas Trent na Transpantaneira comprova que esse caminho é possível no Pantanal.
Foi para tentar seguir esses exemplos que foi criada a Rede de Cooperação Bichos do Pantanal. A iniciativa do Projeto Bichos do Pantanal junto à população de Cáceres congrega representantes de universidades, empresários do setor privado, representantes dos órgãos públicos, associação de ribeirinhos, artesãos e integrantes do terceiro setor. A escolha do turismo de natureza como principal atividade de atuação foi detectada já na primeira reunião da Rede, em fevereiro de 2014.
O grupo também conta com o apoio da Escola de Negócios da Universidade do Kansas, parceira do Projeto Bichos do Pantanal, que realiza um diagnóstico e estratégias para o turismo no Alto Pantanal, além de enviar voluntários para ensinar inglês.
A questão da pesca esportiva é outro estigma para grande parte do Pantanal. A atividade foi fundamental para tornar essa região um importante destino turístico, atraindo a construção dos primeiros hotéis e a consolidação de uma infraestrutura mínima. Mas resumir as possibilidades desse importante bioma apenas para as atividades de pesca também é restringir esse potencial. Para mudar o paradigma de o Pantanal ser apenas um local de pescaria, o primeiro desafio é a profissionalização. “Há muito a ser feito, desde repensarmos o design das pousadas até melhorar o treinamento efetivo de guias para observação da natureza, além de capacitá-los para falar fluentemente inglês”, diz Douglas Trent.
Uma das apostas do Projeto Bichos do Pantanal é o alto potencial de visualização de fauna da estrada Transpantanal. O local tem potencial de visualização de animais igual ou superior ao da Transpantaneira (MT-060), e em apenas alguns minutos circulando pela estrada é possível ver lobinhos, tamanduás e cervos em meio a uma exuberante vegetação de Cerrado. “Me lembra muito a Transpantaneira no início dos anos de 1980. Há muito tempo não encontrava um local com tanta diversidade em espécies de aves”, diz Trent.
A riqueza de fauna e flora impressiona, porém a estrada tem um outro diferencial importante: a chance de se desenvolver o turismo de natureza desde as primeiras ações. A ideia dos integrantes da Rede de Cooperação Bichos do Pantanal é justamente engajar os proprietários que possuem fazendas na região, o poder público, os empresários de turismo local e os centros de pesquisa para, juntos, criarem ações para desenvolvimento de uma opção de turismo de observação de vida silvestre de alto nível.