Bichos do Pantanal

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Pesquisa Aguapés

Tal qual a curiosa história (ou estória) sobre o papel das plantas aquáticas do Pantanal durante a Guerra do Paraguai, pesquisas do Projeto Bichos do Pantanal revelam que os aguapés podem ter de fato um papel importante na proteção do Pantanal e de todo o planeta. A planta Eichhornia crassipes pode ser um grande protagonista no combate às mudanças climáticas – uma ameaça à vida no planeta como conhecemos, provocada pela emissão de gases-estufa que aquecem a Terra, produzidos pelas atividades humanas, como as queimadas e o transporte urbano.

A importância do bioma do Pantanal na manutenção das fontes de equilíbrio climático pode estar diretamente ligada ao comportamento de sua vegetação aquática. Como isso ocorre é a resposta que uma pesquisa da Radboud University Nijmegen, da Holanda, coordenada pela doutora Sarian Kosten, em parceria com a equipe do Projeto Bichos do Pantanal, busca desvendar, através de um levantamento inédito do papel dos aguapés da região na captura e emissão dos gases-estufa.

As áreas alagadas continentais correspondem a 3% das regiões do planeta. A grande maioria já é comprovadamente de áreas importantes para a retenção de carbono, como as grandes turfeiras do Hemisfério Norte, que estocam grande quantidade de matéria orgânica, onde estão toneladas de CO2 e metano, gases de grande contribuição para as mudanças climáticas. A hipótese dos pesquisadores é que o Pantanal, com seus 150 mil quilômetros quadrados de áreas alagáveis, também tenha um papel ativo em relação às emissões dos gases do efeito estufa.

O foco dessa pesquisa é desvendar como as plantas aquáticas, como o aguapé, funcionam nos diferentes ambientes do Pantanal. Uma das teorias é que as bactérias associadas às raízes dos aguapés consomem o metano produzido no ambiente aquático, o que pode ajudar a reter o gás. Outra hipótese é que a formação de um ambiente sem oxigênio – possivelmente por alterações humanas, como a poluição – pode ajudar a liberar gases-estufa para o ambiente, sobretudo o metano, que é 25 vezes mais poluente que o CO2.

A proposta da pesquisa é fazer um comparativo do comportamento das plantas de aguapés em áreas preservadas e alteradas do Pantanal, bem como em regiões de reservatórios artificiais (açudes para bebedouros de animais e pequenas centrais hidrelétricas – PCHs).

A pesquisa é executada pelo ecólogo Ernandes Sobreira Oliveira Junior, doutorando da Radboud University Nijmegen, com orientação da professora doutora Sarian Kosten. O levantamento de dados no Pantanal ocorre com apoio do Projeto Bichos do Pantanal, do Fundo de Ecologia da Holanda – KNAW Fondes Ecologie –, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Mato Grosso (Fapemat) e das universidades Federal de Juiz de Fora e do Estado de Mato Grosso (Unemat), que forneceram apoio laboratorial para a análise das amostras coletadas nessa primeira etapa dos estudos.

O estudo pretende revelar como as baías naturais do Pantanal, as quais apresentam grande quantidade de aguapé, se comportam em relação às emissões dos gases do efeito estufa. O aguapé é uma das vegetações invasivas do mundo e é considerada a maior erva daninha do planeta, porém poucos estudos mostram qual seria a função dessa planta nas mudanças climáticas.

A pesquisa revela que o Pantanal é um ambiente propício para a proliferação da planta de forma natural, a qual pode apresentar um efeito regulador frente ao balanço biogeoquímico dos gases-estufa. Porém, o uso dos recursos naturais de forma descontrolada, como a construção de barragens, o desmatamento, o assoreamento e o despejo de dejetos podem prejudicar o equilíbrio desse bioma, provocando, assim, um fator negativo para as 4,7 mil espécies de fauna e flora que vivem no Pantanal – uma das últimas áreas naturais preservadas do Brasil.

 

Quando os aguapés salvaram o Pantanal

As disputas pela fronteira trouxeram a guerra Pantanal adentro. A Guerra do Paraguai (1864-1870) marcou a vida na região, porém, Francisco Solano López, o presidente paraguaio, decidiu não invadir o norte da Província de Mato Grosso27.

Uma curiosa história popular dá outra versão à proteção do Alto Pantanal. Treze militares liderados pelo coronel Aníbal da Motta, detentores de fé inabalável e temendo uma invasão Paraguaia, teriam pedido a Santo Antônio que impedisse a invasão de Vila Maria (hoje Cáceres). Os paraguaios bem que teriam tentado atacar a cidade, mas foram impedidos por uma grande e fechada “tapagem”, formação de aguapés que se estendeu ao longo do leito do rio Paraguai, na região da lagoa Gaíba, que teria bloqueado a passagem das embarcações dos invasores.

Essa história teria ocorrido justamente no dia 13 de junho (de 1867), quando os católicos fazem uma festa em homenagem a Santo Antônio28.